STF ouve testemunhas da Core 2 no caso da tentativa de golpe

Depoimentos de defesa e o panorama da Core 2

Na sessão de quarta‑feira (16/07), o STF recebeu a segunda leva de testemunhas apresentadas pela defesa dos integrantes da Core 2, núcleo acusado de rascunhar o famoso "minuto do golpe" e de conspirar contra o processo eleitoral de 2022. Entre os depoentes estavam Filipe Martins, que atuou como assessor especial de assuntos internacionais da Presidência, e Marcelo Costa Câmara, antigo ajudante‑de‑campa de Jair Bolsonaro. Ambos foram indicados pelos réus para esclarecer, sob juramento, suas versões dos fatos.

O caso também trouxe à tona ex‑ministros do governo Bolsonaro, como Ciro Nogueira e Rogério Marinho, que foram arrolados como testemunhas a favor de Filipe Martins. Seus relatos giram em torno de discussões internas de gabinete, troca de documentos estratégicos e supostas pressões sobre autoridades judiciais. Segundo eles, as conversas não teriam tido objetivo de subverter o voto, mas de discutir medidas de segurança em um cenário de instabilidade política.

Na sessão anterior (15/07), o tribunal havia ouvido depoimentos de policiais indicados pelo delegado da Polícia Federal Fernando de Souza Oliveira, também réu da Core 2. Essa rodada incluiu referências ao monitoramento de ações do ministro Alexandre de Moraes e à suposta colaboração com a Polícia Rodoviária Federal para impedir que eleitores do Nordeste comparecessem às urnas. Os relatos foram contraditórios, o que reforça a complexidade da investigação.

Além das testemunhas da Core 2, a audiência da quarta‑feira também recebeu depoimentos de acusados da Core 4 – grupo que responde por disseminação de notícias falsas e ataques a instituições públicas. Entre eles, figuram Guilherme Marques Almeida, Marcelo Bormevet e Reginaldo Vieira Abreu. As declarações deles foram curtas, centradas em negar envolvimento direto em atos de incitação ou sabotagem.

O processo, iniciado em 14 de julho, tem sido conduzido integralmente por videoconferência, medida adotada para garantir a segurança dos participantes e a celeridade dos trabalhos. As audiências da Core 2 devem se estender até 21 de julho, enquanto a Core 4 já encerrou seu ciclo em 17 de julho. A Core 3, composta por outros conspiradores, terá seus testemunhos entre 21 e 23 de julho.

Próximas fases e o caminho para o julgamento final

Próximas fases e o caminho para o julgamento final

Com a fase de oitivas ainda em curso, a Procuradoria‑General da República (PGR) tem prazo até 22 de setembro para apresentar a acusação definitiva contra os seis integrantes da Core 2. Essa peça formal conterá a síntese das provas colhidas, bem como a tipificação dos crimes – que vão desde organização criminosa até tentativa de abolição da ordem constitucional.

Após a entrega da acusação, os réus terão oportunidade de apresentar sua defesa escrita, seguida de réplica oral, se o tribunal assim entender necessário. O prazo para a defesa costuma ser de 15 dias, porém pode ser ajustado dependendo da extensão dos autos.

Os nomes dos acusados são: Fernando de Sousa Oliveira, delegado da Polícia Federal e ex‑secretário executivo da Secretaria de Segurança Pública do DF; Marcelo Costa Câmara, coronel da reserva e ex‑assessor de Bolsonaro; Filipe Garcia Martins Pereira, ex‑assessor especial de Assuntos Internacionais do Palácio da Alvorada; Marília Ferreira de Alencar, ex‑diretora de Inteligência do Ministério da Justiça; Mário Fernandes, ex‑vice‑secretário da Presidência e general da reserva; e Silvinei Vasques, ex‑diretor geral da Polícia Rodoviária Federal.

O desfecho do caso tem potencial para abalar o cenário político nacional, principalmente se houver condenação de figuras próximas ao ex‑presidente. A imprensa tem acompanhado de perto cada detalhe, já que o julgamento pode definir precedentes sobre a responsabilidade de agentes públicos em tentativas de ruptura institucional.

Enquanto isso, a sociedade civil e organizações de direitos humanos acompanham o andamento das audiências, exigindo transparência e cumprimento rigoroso dos princípios constitucionais. O caso ainda está longe de ser encerrado, mas cada depoimento traz novos elementos que podem mudar a percepção dos magistrados sobre a extensão da suposta trama.