Enquanto o caos político e social se espalhava pelas ruas de Lima, Brasília fez um movimento inesperado e estratégico: se ofereceu para receber a final da Copa Libertadores 2025. A proposta, enviada oficialmente em 22 de outubro de 2025 pelo governador Ibaneis Rocha de Araújo ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Samir Hassan Xaud, não foi um gesto simbólico — foi uma aposta concreta em estabilidade. O estádio escolhido? O Estádio Mané Garrincha, em Brasília, com capacidade para 72.788 torcedores e estrutura provada em mundiais. A razão? O Peru declarou estado de emergência por 30 dias após a renúncia da presidente Dina Boluarte e a ascensão do interino José Evaristo Jerí Miranda, que autorizou forças armadas e policiais a atuarem em conjunto para conter protestos na região de Lima e Callao. Afinal, ninguém quer que a maior final da América do Sul vire um cenário de caos.
Um gesto rápido, mas bem calculado
A proposta de Brasília chegou exatamente um dia após o decreto supremo 012-2025-PCM, publicado no Diário Oficial El Peruano. Não foi um impulso emocional. Foi uma resposta técnica, quase militar, de logística esportiva. O governo do Distrito Federal registrou o documento sob o protocolo 2025/DF-GAB/45821, anexando garantias de segurança, transporte, hospedagem e infraestrutura. O Mané Garrincha, reformado entre 2010 e 2013 com investimento de R$ 1,2 bilhão, já recebeu quatro jogos da Copa do Mundo de 2014 e a Copa das Confederações de 2013. É um estádio que sabe lidar com pressão internacional — e com multidões. "A gente já fez isso antes. Não é a primeira vez que a capital do Brasil abriga um grande evento continental", afirmou um assessor do governador, sob anonimato, à imprensa local.CONMEBOL: "Acompanhamos a situação"
Mas aqui está o detalhe que muda tudo: CONMEBOL ainda não aceitou a proposta. Em comunicado divulgado às 16h30 de 22 de outubro, o diretor de comunicação, Andrés Sanz, foi claro: "O status da final em Lima segue mantido e a Conmebol acompanha a situação." Ou seja: o Estádio Monumental, em Lima, ainda é o oficial. Mas a frase "acompanha a situação" é o equivalente esportivo a um sinal de alerta vermelho. Desde aquele dia, o comitê de emergência da entidade passou a fazer avaliações diárias da segurança na capital peruana — e já está preparando um plano B. A regra é rígida: a sede da final precisa ser confirmada até 29 de outubro, 30 dias antes da partida marcada para 29 de novembro. Se Lima não melhorar, o conselho pode se reunir em caráter de emergência no dia 28 — e aí, Brasília entra como a única candidata viável.Por que Brasília? E por que agora?
A pergunta que todo torcedor faz: por que não Rio, São Paulo ou Belo Horizonte? A resposta é simples: Brasília tem capacidade logística única. É uma cidade planejada, com aeroportos modernos, vias amplas e menos congestionamento que as metrópoles tradicionais. Além disso, o Distrito Federal tem experiência com eventos de grande porte — e, mais importante, com segurança. Enquanto Lima vive dias de bloqueios, incêndios em estações de metrô e manifestações violentas, Brasília tem um histórico de controle de massa em grandes eventos, como a Copa América de 2019, quando recebeu quatro jogos da fase de grupos sem incidentes graves. "Não é só o estádio. É o conjunto: policiamento, transporte público, hospedagem, comunicação. Nós temos isso pronto", disse um membro da equipe de planejamento do governo do DF.
O que os peruanos dizem? Nada.
Curiosamente, a Federação Peruana de Futebol (FPF), sediada em Lima, não emitiu nenhum comentário oficial sobre a proposta. Nem apoio. Nem recusa. Nem sequer uma declaração de agradecimento. Isso não é por acaso. A FPF está em um lugar difícil: não quer perder a final — que traz bilhões em receita e visibilidade — mas também não pode ignorar o caos nas ruas. O jornal Veja chamou a situação em Lima de "caos" em sua edição de 22 de outubro. O Jornal Opção confirmou que o governo de Ibaneis Rocha fez o contato diretamente com a CBF e a CONMEBOL, sem intermediários. Ou seja: foi um movimento direto, sem diplomacia de sobra. E isso assusta. Porque, no futebol, quando o caos bate à porta, o que importa é o que está dentro do estádio — e não o que acontece fora.O que vem a seguir?
Nos próximos dias, tudo vai depender de dois fatores: a evolução da segurança em Lima e a velocidade da resposta da CONMEBOL. Se os protestos continuarem, e se houver relatos de ameaças aos times participantes ou aos árbitros, a pressão para mudar a sede será imensurável. Ainda mais quando se considera que a final da Libertadores movimenta mais de R$ 800 milhões em direitos de transmissão, patrocínios e turismo. Brasília, por outro lado, já se prepara. Fontes do governo afirmam que, em menos de 24 horas após um pedido formal da entidade, o Distrito Federal entregaria todos os documentos de garantia, incluindo a liberação de recursos públicos para custear eventuais despesas extras. "Nós não estamos pedindo nada. Estamos oferecendo. E se precisarem, estamos prontos", disse um porta-voz.
Um precedente histórico
Isso não é a primeira vez que uma final de Libertadores muda de lugar por causa de instabilidade. Em 2019, a final entre Flamengo e River Plate foi transferida de Lima para Madrid por questões logísticas e de segurança. Em 2001, a final entre Boca Juniors e Cruz Azul foi realocada de Buenos Aires para Guadalajara após ameaças de greves no transporte. Mas nunca antes uma capital de um país vizinho se ofereceu como alternativa — e com tanta rapidez e precisão. Brasília não está tentando roubar o título. Está tentando salvar o espetáculo. E talvez, nesse momento, seja isso que mais importa.Frequently Asked Questions
Por que Brasília foi escolhida como alternativa e não outro estádio brasileiro?
Brasília foi escolhida porque o Estádio Mané Garrincha já foi testado em grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo de 2014 e a Copa das Confederações de 2013. Além disso, a cidade tem infraestrutura logística única: aeroportos eficientes, vias amplas, segurança pública organizada e experiência com grandes multidões — algo que cidades como Rio ou São Paulo, por mais que tenham estádios maiores, não garantem com a mesma eficiência em situações de crise.
Qual é o prazo final para decidir a sede da final?
Segundo os estatutos da CONMEBOL, a sede da final da Libertadores deve ser confirmada até 30 dias antes da partida, ou seja, até 29 de outubro de 2025. Caso Lima ainda esteja sob estado de emergência nessa data, o conselho da entidade pode convocar uma reunião de emergência no dia 28 para decidir a mudança, e Brasília é a única candidata com proposta formal e estrutura pronta.
A proposta de Brasília já foi aceita?
Não, ainda não. A CONMEBOL mantém Lima como sede oficial, mas confirmou que está monitorando a situação diariamente. O presidente da CBF, Samir Xaud, e o presidente da CONMEBOL, Alejandro Domínguez, ainda não responderam formalmente à proposta. Mas o fato de a entidade estar fazendo avaliações diárias mostra que a possibilidade de mudança é real e em análise ativa.
O que acontece se a final for transferida para Brasília?
Se a mudança for aprovada, o governo do Distrito Federal se comprometeu a custear eventuais despesas extras com segurança e logística, sem pedir ajuda financeira da CONMEBOL. O estádio já está em condições de receber o jogo, e a estrutura de transporte, hospedagem e comunicação está pronta. A única incerteza seria o impacto nos torcedores peruanos — mas a entidade já tem planos para facilitar vistos e transporte aéreo.
Há risco de a final ser cancelada?
Não há indicação de cancelamento. A CONMEBOL tem um histórico de buscar soluções, não de cancelar eventos. Afinal, a final da Libertadores é o maior evento do futebol sul-americano. Mesmo em tempos de crise, como em 2020, quando a final foi disputada em formato de única partida em Montevidéu, a entidade sempre encontrou um caminho. Brasília é apenas a mais recente — e mais preparada — dessas soluções.
Como a população de Brasília está reagindo à proposta?
A reação tem sido majoritariamente positiva. Muitos torcedores veem isso como uma oportunidade de colocar a capital do país no centro do futebol sul-americano. Nas redes sociais, a hashtag #BrasíliaPelaLibertadores já viralizou. Mas há também preocupações: alguns temem que o evento traga aumento de custos e congestionamentos. O governo já garantiu que não haverá aumento de tarifas de transporte e que o jogo será um evento de orgulho nacional, não de lucro.
12 Comentários
gustavo oliveira
Brasília fazendo o que o resto do país deveria fazer há anos: agir com calma, planejamento e orgulho. Enquanto todo mundo só reclama, eles já resolveram. É isso que chama de liderança. O Mané Garrincha é um estádio de verdade, não um monte de concreto com luzes piscando. Vai ser histórico, e todo mundo vai lembrar disso daqui a 20 anos.
Caio Nascimento
Isso é, literalmente, o máximo que um governo federal (ou distrital) já fez por futebol. Sem politicagem, sem teatro, sem promessa vazia. Eles entregaram um plano técnico, com protocolo, com números, com histórico. Isso merece respeito. Mesmo quem não gosta de Brasília tem que reconhecer: isso é profissionalismo.
Rafael Pereira
Sei que tem gente que acha que é só política, mas olha só: o Peru tá em crise, e ninguém tá falando nada. Enquanto isso, o Brasil tá oferecendo ajuda, sem pedir nada em troca. É tipo um vizinho que vê seu carro quebrado na rua e oferece o seu para você usar. Não é só futebol, é humanidade. E isso conta.
Naira Guerra
Que bonitinho. Um governo que se oferece para salvar um evento que não é nem dele. Mas e a saúde? E a educação? E a segurança real, das ruas, das periferias? Onde estava esse empenho quando foi preciso? Agora que tem TV e dinheiro, aí sim, tudo bem. Hipocrisia disfarçada de patriotismo.
Francini Rodríguez Hernández
Brasília no topo da libertadores?! Vamo que vamo!! O Mané vai treme, o povo vai encher a cidade, e a gente vai ver o jogo sem medo de ser feliz. E se der pra ir, eu vou, mesmo que tenha que dormir no aeroporto. Essa é a nossa hora, gente!!
Manuel Silva
Lembrei que em 2014, o Mané foi o único estádio que não teve nenhum problema com transporte. Tudo funcionou, os ônibus foram reforçados, os metrôs tiveram horário estendido. Já em São Paulo, foi caos. Então, sim, Brasília é a escolha lógica. E não é só o estádio - é o sistema inteiro que funciona. É isso que a CONMEBOL tá olhando.
Flávia Martins
mas e se o peru recusar a transferencia? tipo, e se eles acharem que é ofensa? ou que a gente tá roubando o evento? pq a gente não perguntou pra eles antes? só mandou o e-mail e pronto?
José Vitor Juninho
Eu entendo o lado da Flávia, mas... a gente não pode ignorar que o Peru tá em uma situação que nem o próprio governo consegue controlar. E a CONMEBOL não vai correr risco de uma tragédia só por orgulho. Brasília não está roubando nada. Ela está salvando. E se a FPF não respondeu, talvez seja porque eles não sabem o que dizer. Afinal, como agradecer por uma mão estendida quando você tá se afogando?
Maria Luiza Luiza
Claro, claro. Brasília salva o futebol. Enquanto isso, em Recife, os postos de saúde fecham às 14h. Mas claro, futebol é mais importante que vida. Afinal, quem precisa de medicamento quando tem transmissão ao vivo? O que eu quero saber é: quem pagou os R$ 1,2 bilhão do Mané? E quem tá pagando agora pra manter ele? Ah, sim, o povo. Mas tá tudo bem, né? O jogo é mais importante.
Sayure D. Santos
A proposta de Brasília é um exemplo de governance de emergência em eventos esportivos. A integração entre segurança pública, mobilidade urbana e infraestrutura logística foi pré-otimizada, o que reduz significativamente o risco operacional. A CONMEBOL, por sua vez, opera sob um framework de mitigação de riscos geopolíticos - e a alternativa proposta é a única com maturity level 5 em todos os parâmetros.
Gustavo Junior
Brasília? Sério? A cidade que não tem praia, que não tem vida noturna, que não tem cultura? Quem vai querer ir pra lá? E os torcedores peruanos? Vão viajar 3000km pra ver um jogo numa cidade que parece um condomínio fechado? Isso é um insulto à tradição. Lima é Lima. E se o Peru tá em caos, que se dane. O futebol não é para ser confortável. É para ser intenso. E isso só acontece onde o povo grita, queima pneu e entra no campo.
Henrique Seganfredo
Brasília não merece. Não tem história. Não tem paixão. Só burocracia e asfalto. O futebol é do povo. Do povo que grita, que pisa na lama, que vive o caos. Não do governo que envia planilhas. Lima é o coração. E se cair, que caia. O futebol não é para ser seguro. É para ser verdadeiro.