Em 25 de setembro de 2025, a empresa brasileira de serviços ambientais Ambipar conseguiu, por meio de uma injunção preventiva, barrar a antecipação da dívida que ameaçava precipitar um buraco financeiro superior a R$ 10 bilhões. A medida, concedida por um juiz da Justiça Estadual do Rio de Janeiro, protege a companhia de um cenário de calote que poderia comprometer não só a sua operação, mas também o mercado de crédito corporativo no país.
Crise de liquidez e disputa judicial
A necessidade de recorrer ao Judiciário surgiu depois que o Deutsche Bank exigiu garantias extras para os empréstimos concedidos à Ambipar, especialmente em relação aos chamados green bonds. A exigência foi entendida como um gatilho para a cláusula de “cross‑default”, que automaticamente tornaria outras obrigações vencidas. A decisão judicial reconheceu o risco como “imediato e concreto”, justificando a suspensão da ação dos credores.
Na sequência da notícia, as ações da Ambipar despencaram 43% em um único pregão, borrifando cerca de R$ 7 bilhões do valor de mercado da companhia. Foi o maior rali de baixa da história da empresa, que chegou a perder 60,5% de sua cotação em menos de um mês.
Além do embate com o banco alemão, a empresa tem sido alvo de reavaliações por parte das agências de rating. A S&P Global colocou a emissão “BB‑” da Ambipar sob CreditWatch negativo, apontando incertezas na governança e risco crescente de refinanciamento. O Fitch, por sua vez, alterou o outlook da dívida local de positivo para negativo, citando a mesma vulnerabilidade.
O clima de instabilidade ficou ainda mais denso após a troca de executivos. Ricardo Rosanova Garcío assumiu os cargos de CFO e IR, substituindo João Daniel Piran de Arruda e Pedro Borges Pedersen. Este último está sob investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por supostas irregularidades no programa de recompra de ações conduzido em 2025.

Desdobramentos e perspectivas
Mesmo diante da tempestade, a Ambipar não deixou de traçar um caminho para reequilibrar as contas. A companhia anunciou a intenção de levantar até R$ 3 bilhões por meio de uma operação de duas partes em debêntures, com o objetivo de refinanciar dívidas locais e melhorar a estrutura de capital.
- Captação planejada: foco em investidores institucionais que buscam ativos ligados a ESG.
- Liquidez de curto prazo: a empresa afirma manter caixa suficiente para honrar compromissos imediatos.
- Expansão regional: cerca de 60% do EBITDA consolidado ainda provém do Brasil, com presença em América Latina, EUA, Canadá e Reino Unido.
Analistas apontam que a situação da Ambipar reflete um dilema maior enfrentado por empresas brasileiras de alto endividamento e estruturas de financiamento internacionais complexas. Enquanto o setor de serviços ambientais ainda ostenta boas perspectivas de crescimento, sobretudo com a demanda por soluções sustentáveis, a fragilidade de governança pode se tornar um obstáculo decisivo para captar recursos a custos competitivos.
O caso ainda gera discussões sobre a eficácia das cláusulas de cross‑default em contratos de dívida verde e a necessidade de maior transparência nas práticas de governança corporativa. O futuro da Ambipar dependerá da capacidade de negociar com credores, restaurar a confiança dos investidores e concluir a emissão de debêntures sem comprometer ainda mais sua estrutura financeira.