Ágora e BBI mudam recomendação da Ambipar para “venda” após crise de rating

Quando Ambipar Participações e Empreendimentos S.A., a maior empresa brasileira de gestão de resíduos, viu sua classificação de crédito despencar, duas casas de análise — Ágora Investimentos e Bradesco BBI — rebaixaram a recomendação de “neutra” para “venda”. O anúncio, feito em 26 de setembro de 2025, reduz o preço‑alvo de R$ 135,00 para R$ 120,00 até o fim do ano, refletindo o pânico nos mercados após a empresa solicitar proteção judicial em 24 de setembro. O que antes era um boom de 2.700 % nas ações, agora virou queda de quase 95 % desde o pico, deixando investidores de olho no próximo movimento.

  • Data da mudança de recomendação: 26/09/2025
  • Preço‑alvo reduzido: de R$ 135,00 para R$ 120,00
  • Rating S&P Global: de BB‑ para D (calote)
  • Rating Fitch: para C e RR4 nas emissões da subsidiária
  • Queda das ações em 26/09/2025: 61,48 % (leilão)

Contexto histórico da Ambipar

A empresa foi fundada em 2000 e chegou à B3 em 2020, usando aquisições agressivas para ampliar seu portfólio de serviços de resíduos perigosos e soluções ambientais. Até o final de 2024, Ambipar Lux S.a.r.l. e Ambipar Environment Inc. já operavam nos EUA e Europa, o que fez a companhia ser vista como "green champion" pelos investidores. Contudo, a estratégia de financiar essas expansões via green bonds e derivativos vinculados a metas ambientais acabou se tornando uma armadilha quando as condições de mercado mudaram.

Detalhes do rebaixamento de recomendação

Os analistas da Ágora Investimentos — cujos nomes não foram divulgados — elevaram a incerteza sobre a capacidade de pagamento da Ambipar. Em relatório interno, destacaram que a medida cautelar concedida por um tribunal estadual em 24 de setembro suspendia cláusulas contratuais que poderiam acelerar o vencimento de dívidas, mas, ao mesmo tempo, sinalizava uma reestruturação de dívida de grande porte. Do mesmo jeito, o time do Bradesco BBI apontou para o downgrade da S&P Global Ratings de BB‑ para D, descrevendo a situação como "equivalente a um calote".

Reação imediata do mercado

Nas sessões de 25 e 26 de setembro, as ações da Ambipar despencaram mais de 50 % em um único dia, levando a B3 a interromper as negociações para leilão após a queda de 61,48 % em 26/09/2025. Na abertura de 3 de outubro, o papel foi negociado a R$ 1,90, uma queda de 30,91 % em relação ao dia anterior. O volume foi 12 vezes maior que a média, indicando pânico entre compradores e vendedores. O que surpreende é que, apenas um ano antes, a mesma ação havia subido de R$ 10.000,00 para quase R$ 300.000,00, impulsionada por um short squeeze e pela popularidade dos green bonds.

Análises de especialistas

Análises de especialistas

O canal "Fred Invest" no YouTube, em vídeo de 4 de outubro de 2025, descreveu o caso como “um dos exemplos mais extremos de volatilidade no mercado brasileiro”. Segundo o apresentador, o uso de derivativos atrelados a metas ambientais criou um efeito cascata: assim que os preços das commodities caíram, a capacidade da Ambipar de honrar esses contratos também diminuiu, forçando a empresa a recorrer à proteção judicial. A Fitch Ratings, por sua vez, rebaixou as notas de risco da controladora para C e das emissões da subsidiária para C com rating de recuperação RR4, indicando baixa probabilidade de pagamento total.

Perspectivas para investidores e credores

Com apenas duas casas de análise ainda emitindo recomendações, a maioria dos investidores institucionais — como Bank of America, Itaú BBA e XP Investimentos — colocou o papel sob revisão, aguardando um desfecho judicial. Se a Ambipar entrar em recuperação judicial, os credores internacionais podem perder grande parte dos valores investidos, especialmente aqueles que detêm os green bonds de risco mais alto. Para acionistas minoritários, a principal preocupação agora é a possibilidade de diluição massiva ou mesmo expropriação de direitos societários.

Próximos passos e fatores de risco

Próximos passos e fatores de risco

O tribunal estadual tem até 90 dias para analisar o pedido de proteção judicial, mas a pressão das agências de rating pode acelerar um acordo de reestruturação extrajudicial. Enquanto isso, a empresa continua a operar suas unidades em São Paulo e no exterior, mas com restrições de crédito que dificultam novos investimentos. Observadores de mercado recomendam que os investidores monitorem duas variáveis: a data da próxima audiência judicial (provavelmente em meados de novembro) e a evolução dos ratings da S&P e Fitch nos próximos relatórios trimestrais.

Perguntas Frequentes

Como o rebaixamento de rating afeta os detentores de green bonds da Ambipar?

Os green bonds passaram a ser classificados como risco elevado (C e RR4). Isso significa que os investidores podem receber apenas uma fração do principal, especialmente se a empresa entrar em recuperação judicial. Muitos fundos de ESG estão revendo suas posições e podem solicitar resgates.

Quem são as únicas corretoras que ainda mantêm recomendação ativa?

Até o momento, Ágora Investimentos e Bradesco BBI são as únicas que mantêm cobertura analítica, ambas recomendando venda com preço‑alvo de R$ 120,00.

Qual o impacto da queda das ações para os investidores de varejo?

Investidores que compraram durante o boom de 2024 veem perdas superiores a 90 % do valor investido. Muitos estão vendendo a descoberto ou aguardando um possível reembolso parcial em caso de recuperação judicial.

O que a S&P Global disse sobre o pedido de proteção judicial?

A S&P classificou a medida cautelar como "equivalente a uma reestruturação geral da dívida", indicando que a empresa pode não conseguir honrar obrigações sem renegociação extensiva.

Qual a perspectiva para o preço‑alvo da Ambipar nos próximos meses?

Analistas das duas corretoras mantêm o alvo em R$ 120,00, mas alertam que, caso a recuperação judicial seja confirmada, o valor pode cair ainda mais, possivelmente abaixo de R$ 50,00.

1 Comentários

  1. Francis David

    Francis David

    O recuo das recomendações da Ágora e do BBI realmente sinaliza uma mudança de tom no mercado. As ações da Ambipar já estavam sob pressão e agora o pânico ficou ainda mais evidente. É importante observar como as casas de análise interpretam a proteção judicial. Acredito que o próximo passo será acompanhar o desdobramento judicial e as respostas dos credores.

Escreva um comentário